41. A DISPUTA ENTRE OS FUNDADORES DE NAZARÉ

QUANTO O LOCAL E A CAPELA DA VIRGEM DE NAZARÉ

          Conta-se e escreve-se sobre uma disputa havida entre os irmãos Lopes, fundadores do município, sobre o local em que se deveria manter a imagem da Nossa Senhora de Nazaré, logo após a construção da capela, ou seja, das capelas, pois estas, foram duas.

       Eram duas as capelas, cada uma edificada por um dos irmãos, e existia somente uma imagem da “Virgem de Nazaré”. Daí ocorreu o roubo da imagem da capela primeira, com o seu “milagroso” aparecimento na segunda. Recuperada a pequena imagem de madeira, pacificaram-se os irmãos e acordaram quanto ao local ou capela em que Ela deveria ficar.   Sem nenhuma comprovação científica e sem nenhum registro de segura confiabilidade, não se sabe tratar-se de lenda ou fato.   Encontramos referência a essa disputa em duas fontes, a saber:

     – 1ª fonte: O São Paulo- Jornal, matutino da capital, em setembro de 1927, publicou nota com o título “Nazareth”, transcrita no jornal “A Folha”, nº 114, de Nazaré, de 11 de setembro de 1927:

        “Por volta do século XVII, os bandeirantes ao passarem pelo logar onde hoje está situada a cidade de Nazareth, ficaram encantados com a posição topographica, clima e condições excelentes para uma povoação, a ponto de resolverem ficar os dois irmãos Lopes. Um delles tratou e conseguiu a edificação de uma egreja, onde se acha a cidade; outro, a 2 horas de distância, edificou outra egreja, não conseguindo formar a povoação.”…

      – 2ª fonte: O livro ”O Bom Povo”, de Francisco Damante, piracicabano, escritor e professor, residente por muito tempo em Perdões. Às folhas 24 e 25 daquele livro, assim escreve:

        …”A respeito da fundação dessa curiosa e vetusta cidade serrana, (referia-se à Nazaré) há um fato singularíssimo, digno mesmo, de registro. Transmitido de geração a geração, até chegar aos nossos dias, sem que se recebesse contradição e desmentido, aqui vai fielmente retratado tal qual no-lo contou um venerando morador do lugar, pessoa digna de toda a confiança, merecedora de todo o apreço:

          Outrora, em época que já vai longe, Nazare´ “não era aqui”, no lugar que está hoje, sobre esse morro “desajeitado”. A antiga povoação e capela da milagrosa Senhora de Nazaré, ficavam daqui a uma boa meia légua, num campo largo e lindo, à esquerda de quem vai para a capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões da Cana Verde, local onde até esta data encontram-se vestígios de edificações, como sejam antiqüíssimas taipas e muros, socados a mão, obras fortíssimas que têm resistido a ação demolidora do tempo.
       

        Por aquela imemorável era, habitava este morro onde hoje está a cidade, um patrício nosso, caipira resoluto e empreendedor, homem de vontade de ferro, fervoroso adepto de Nossa Senhora de Nazaré, e um perfeito bandeirante capaz de resolver, de vez, tudo o que desejava, queria e pensava.

       Assim, pretendendo esse paulista e crente que a santa predileta de sua fé, tivesse uma nova residência e que essa honra insigne coubesse aos terrenos de sua propriedade, construiu sem demora, uma capelinha onde deveria ser o novo e formoso ninho da Virgem.

      Mas o povo da primitiva povoação, absolutamente não consentiu que se tirasse a imagem dali, pois a Santa Padroeira estava muito bem onde se deixou ficar, quando desceu do céu em companhia do Senhor. E por mais que o dono da “Capela do Alto” se esforçasse e trabalhasse para mudar a imagem; por mais que dissesse e proclamasse que a Nossa Senhora de Nazaré ficaria melhor na nova morada e que, de lá, naquele lugar elevado, seria mais fácil a Santa comunicar-se com Jesus e com os anjos, nada pode conseguir, sendo baldados todos os esforços e trabalhos. Mas a grande esperança de ver plenamente realizado o seu intento jamais o abandonou.

         Assim, passados alguns anos, quando nem por sombras, ninguém mais se lembrava de mudar a Santa, eis que o devoto construtor da “Capelinha do Alto” teve uma luminosa idéia e a pôs imediatamente em prática; a altas horas da noite, quando pela imensidade daquelas florestas solitárias, tudo era triste, pesado, fantástico, assombroso, vinha ele, cautelosamente, e, com jeito e denodo, roubava a imagem, transportando-a pressurosamente para a sua “igrejinha”.

       De dia, dando o povo pela falta da Santa, procurava-a e trazia à sua antiga morada, mas à noite, infalivelmente, Nossa Senhora de Nazaré “fugia” de seu velho nicho, e, ao despontar d’alva, estava na capelinha álacre, caiada de fresco, que, naturalmente, havia de se destacar no alto como nívea asa de arcanjo a pousar sobre uma eminência de flores e de verdura.

      O povo bom, simples e supersticiosa daquela época, acreditou, então, piamente que a santa estava resolvida a mudar de residência, e numa bela noite, Nossa Senhora de Nazaré viajou para a capela edificada na crista do morro, para nunca mais voltar… E em seguida à mudança da Santa, começaram-se a construir, ao redor da capela nova, algumas casas que mais tarde foram tornando numerosas, até se formar uma pequena vila, que é a atual cidade de Nazaré, hoje com uma outra igreja mais espaçosa e com outra imagem da Santa, bem maior, mais formosa e mais rica.”

      A difícil localização do lugar onde se situava a outra capela, “num campo largo e limpo, à meia légua e à esquerda de quem se dirige a Perdões”, somada à também difícil identificação do venerando morador que relatou esta história ao autor d’ O Bom Povo, e, especialmente pelo fato de não se encontrar registro análogo nos livros-tombo da igreja ou em historiadores clássicos, nos induzem a, respeitosamente, não aceitar como fato histórico esta rivalidade entre os irmãos Lopes, que bem poderiam ser, Mathias e Manoel Lopes, e adotar esta estória como uma devota lenda e figurado reforço da localização da igreja no alto do morro e a assunção de Nossa Senhora ao céu.

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