3 – NAZARÉ PAULISTA E SUAS FESTAS DO DIVINO

NAZARÉ PAULISTA E SUAS “FESTAS DO DIVINO”

Oscar Teresa Pinheiro do Carmo
Agosto/2013

  1. De “Nazareth” a Nazaré Paulista
    “Nazareth”, o antigo povoado fundado por Mathias Lopes e Zuzarte Lopes em 1676, evoluindo para Capela Curada em 1682, Freguesia de Nazareth em 1731, Vila de Nazareth em 1850, Cidade de Nazareth em 1906 e finalmente Município de Nazaré Paulista em 1944, juntamente com sua co-irmã Atibaia, a também antiga “São João de Atibaia” constituíram-se em uns dos primeiros aglomerados interioranos da então Província de “São Paulo de Piratininga”, nosso atual Estado de São Paulo.

2. Nazaré Paulista e sua Igreja
Seus fundadores erigiram uma tosca capela sob a invocação de Nossa Senhora de Nazaré, no topo da montanha de 1030 metros de altitude, banhada em seu sopé pelo Rio Atibainha. E aquela pequena e rústica capela, declarada Curada e com pároco em 1682, considerada paróquia em 1686 quando iniciou os primeiros registros de batismos e casamentos, com as suas sucessivas reformas e ampliação deu origem à nossa atual, bonita e querida igreja, a mais antiga igreja da nossa Diocese de Bragança Paulista, tendo como padroeira a nossa Santa Mãe, Nossa Senhora de Nazaré, com a sua atual imagem no Altar-Mor, trazida da Espanha em 1916.

3. Nazaré e suas Festas Religiosas
Desde sua fundação, o seu povo eminentemente católico festejava os santos e as datas magnas da cristandade. Têm-se notícias e lembranças das Festas da Santa Cruz, de São Benedito, São Lázaro, Santa Luzia, Santa Terezinha, São Sebastião, Santo Antônio, Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Conceição etc. E eram festivamente celebradas as festas de “Corpus Christi”, a Semana Santa e as festas natalinas. Mas, desde a sua fundação, sempre se festejou com muita pompa e devoção, com repercussão em municípios vizinhos e contando com romeiros de distantes localidades mineiras, as solenes e tradicionais “Festa do Divino” em junho, e “Festa da Padroeira” em novembro.

4. A origem da Festa do Divino Espírito Santo
A Festa do Divino é originária de Portugal, onde, no século XIII, em Alenquer, foi construída a Igreja do Espírito Santo, por ordem da Rainha Izabel de Aragão, esposa de D. Diniz, durante a guerra com a Espanha. E o seu culto, devoção e comemoração foram trazidos ao Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI, onde tornou-se em uma das festas de grande popularidade e prestígio em várias cidades brasileiras, principalmente nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Maranhão e Rondônia. A festa do Divino evoca as diversas formas de aparições da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, sobretudo no episódio bíblico de “Pentecostes”, quando o Espírito Santo manifestou-se aos apóstolos sob a forma de línguas de fogo, transmitindo-lhes seus dons, dos quais ressaltam a “força e a sabedoria”.

5. As diversidades do Ritual
Nas diversas localidades onde é cultuada e festejada a Festa do Divino, pode-se observar uma grande divisão entre as comemorações festivas, as de cunho essencialmente religiosos e as festividades, ditas profanas. A Festa do Divino tem seus dois lados; tanto é rito religioso e é também espetáculo. Há uma mistura de catolicismo e de misticismo. Estes dois pólos distintos, o sagrado e o profano convivem e se mesclam harmoniosamente, sem se questionarem ou conflitarem entre si. E as manifestações populares características da região e do povo local se incorporam às festividades, tornando traços específicos e peculiares de suas histórias, de suas culturas e de suas tradições. Festa sagrada, lúdica e profana a um só tempo, entrelaçando folclore e religiosidade, fé e crença popular.

6. A Fase Preparatória da Festa
A Festa do Divino tem suas fases de preparação e de realização. Sua preparação se inicia meses antes, com as visitas domiciliares dos Festeiros com a Bandeira do Divino. Essas visitas, antigamente conhecidas como “Folia do Divino” percorriam as diversas casas do povoado, com o duplo objetivo de colher as promessas de donativos para a realização da festa e também para apresentar a Bandeira do Divino nos diversos aposentos da residência e aos seus moradores e membros da família. A fase preparatória da festa também inclui a “Novena”, os nove dias antecedentes ao dia principal da festa, com as ditas “Alvoradas”, as caminhadas matutinas e noturnas pelas ruas da cidade.

7. O Período “decadente” das Festas Nazareanas
Era comum, até bem pouco tempo, ouvir dizer, sobretudo dos nazareanos mais antigos, que a Festa do Divino em nossa cidade, com o passar dos anos já não possui o mesmo esplendor e riqueza folclórica de antigamente. Estes saudosistas fazem as comparações das festas antigas com as atuais, dos antigos costumes e da fartura dos outros tempos e declaram que a tradição da festa “está morrendo”. Esta estagnação e até mesmo retrocesso festivo, com a diminuição dos festejantes, visitantes e romeiros, podem ser explicados pelo natural desenvolvimento e crescimento populacional do município, como também pela dificuldade financeira na sua realização e pelo incremento das festas religiosas nos bairros e suas capelas rurais, fazendo diminuir o antigo hábito de migração rural para a cidade por ocasião da festividade.

8. As Tradições Festivas abandonadas
Na história das Festas do Divino Nazareanas observamos que muitas tradições que lhes eram peculiares foram se perdendo e abandonadas com o decorrer do tempo. Reflexos da modernidade. Sem o sentido e muito menos o objetivo de mero retorno ao passado, de regresso ao pretérito ou de retroagir ao antigo, são lembrados alguns dos costumes das festas de então e que se perderam no tempo:
-A Grande Casa da Festa, com suas grandes acomodações para receber, acomodar e alimentar os devotos rurais e visitantes,
-A migração da população rural para a cidade, durante todo o período festivo, trazendo lenha para as grandes fogueiras, vindo em sua maioria a cavalo e com a tropa de comitiva, trazendo suas provisões e donativos ao Divino,
-Os “Pastos” nos arredores da cidade, onde eram soltos os animais de montaria, mediante pagamento de aluguel diário pelo período da festa,
-A vinda de romeiros de distantes cidades em caminhões com bancos e lonas e que ficavam estacionados nas vias de acesso à cidade,
-A doação, reunião e o abate dos bois doados ao “Divino” e destinados ao leilão e ao preparo do “afogadão”,
-O “Pau de Sebo”, vara de eucalipto ensebado, com cédulas de dinheiro no seu topo, desafiando a subida,
– O “Porco ensebado” que era solto no meio da multidão, sendo prêmio ao que conseguisse segurá-lo,
-Os senhores com seus chapéus, e as mulheres, devotas, com suas vestes e véus escuros,
-A diversidade de congadas, locais ou de lugares distantes, com seus instrumentos de percussão e de sopro, sanfonas, com seus estandartes, reis e rainhas,
-Os “Moçambiques”, com suas peculiares danças e apetrechos nas vestimentas,
-Os “Caiapós”, com os trajes e danças indígenas,
– As “Congadas Mirins”, formadas por crianças da cidade, imitando a dança e bater de espadas,
– As “Touradas”, antecessoras dos atuais rodeios, onde o atrativo e o desafio eram “agarrar o touro à unha”, deixando que ele estocasse e chifrasse o toureiro ou então montá-lo e permanecer sem cair,
-As barracas dos comerciantes que se instalavam pelas calçadas da cidade vendendo roupas, utensílios e novidades, e não, comestíveis e eletrônicos do Paraguai, como se vê nas festas atuais,
-Os “fogueteiros” com seus rojões espocando pelo céu, e as famosas “baterias artesanais de bombas” ao final da festa.
-As bandeirinhas enfeitando as ruas e postes da cidade,
– O circo de lona, o parque de diversões e o circo de tourada,
-As procissões religiosas com vários andores de santos, sempre precedidas do andor de São Benedito, pois se assim não se dispusesse, era certo que choveria; as alas centrais das Irmandades, das Filhas de Maria, dos Congregados Marianos e do Apostolado da Oração,
-Os membros da Irmandade do Santíssimo, encarregados que eram de pelo trajeto e controle de caminhada da procissão e de transporte do pálio.
– A distribuição de flâmulas como recordações e de doces caseiros.

9. O Restabelecimento de Tradições
É com imensa alegria e satisfação que observamos nestes últimos anos, nas últimas Festas do Divino, o restauro, o restabelecimento, a rememoração e a encenação de muitas ações e tradições antigas, em especial as de foro religioso, elevando o grau de evangelização e de conscientização sobre a essência da Festa, ou seja, da devoção das pessoas ao Espírito Santo.
Assim, vimos nas últimas Festas do Divino:
-os grandes enfeites e adornos encarnados no interior de nossa Igreja,
-As grandes Bandeiras vermelhas com os desenhos dourados da coroa e do pombo,
-o Esplendor do Divino, alegremente adornado e postado em andor,
-o Translado do Cetro e da Coroa do Divino pelo Imperador e pela Imperatriz e demais membros da Corte Imperial acompanhada pela Comissão de Festa e pelos devotos,
-a elevação e o afincamento do Mastro do Divino defronte à Igreja,
– a grande carreata de bois, conduzindo a paçoca do sítio para a cidade, para ser servida, com café, aos devotos, após as alvoradas,
-as Santas Missas nos dias de novena, cada uma com um tema específico relativo ao Espírito Santo, com suas encenações e representações ao encargo de pastorais e movimentos religiosos,
-as alvoradas e caminhadas, com a participação do pároco e presbíteros visitantes, com as cantatas em viola, tradicionais da festa,
-as missas solenes e alvoradas com procissão em louvor a São Benedito, São Lázaro, São Pedro e Sagrado Coração de Jesus,

-o levantamento do mastro de São Pedro,-o “Bando Precatório”, caminhada da Comissão de Festa carregando o “pano vermelho”, coletando donativos pelas ruas da cidade,
-a solene missa em ação de graças ao Divino Espírito Santo, presidida pelo Bispo Diocesano,
-a declaração pública, nomeação e investidura da Comissão de Festa para o ano seguinte,
-o serviço de distribuição de café com paçoca aos devotos participantes das alvoradas, de maneira ordenada, racional e higiênica,
-o leilão de prendas e de garrotes,
– o serviço de venda, a preço simbólico, de refeição destinada à alimentação dos romeiros e visitantes,
– o show pirotécnico na noite de encerramento da festa,
-a exposição histórica das Festas do Divino e do passado histórico da cidade e do nosso município, com preciosas recordações culturais, religiosas e históricas,

10. As Congratulações e as Esperanças
Graças e bênçãos, se é que nós, nazareanos leigos, podemos assim desejar, ofertamos ao Revmos. Padres José Carlos Ribeiro, Tarcísio Spirândio e o atual Padre Fábio Marcos, ressuscitadores do esplendor, da beleza, riqueza e ineditismo dos ritos litúrgicos e do resgate de inúmeros costumes tradicionais na festa deste ano.
Congratulações e efusivos cumprimentos às Comissões de Festa, da cidade e dos bairros, pelo eficaz e dedicado trabalho de coordenação e realização das festas, bem como pela arrecadação de fundos e donativos para o custeio das despesas.
Cumprimentos generalizados a todos os que contribuem para a realização do evento, no qual se vê entrelaçados o folclore e a religiosidade nazareana, dessa outrora tão famosa Festa do Divino Espírito Santo, de Nazaré Paulista.
Nossos votos e esperança de que ela volte a ser um importante atrativo cultural, religioso e turístico de nossa gente e de nossa terra; que ela possa mobilizar e integrar toda a nossa população, movidos pela fé no Divino, que seja uma importante ferramenta para manter vivos as nossas tradições, nossos rituais religiosos e nossos costumes, e que dinamizem o turismo em nosso município, carreando um maior fluxo de visitantes, não só no período da festa, mas durante todo o ano.
A Festa do Divino, além de se constituir na mais importante festa religiosa da nossa cidade, pode também ter um significativo aspecto econômico para o município, pois movimenta vários setores ligados ao turismo, atraindo visitantes e trazendo renda e oportunidade de trabalho aos bares, hotéis, restaurantes, artesãos e vendedores ambulantes.
Para que isso possa vir a acontecer é preciso que: tenhamos uma conscientização turística, uma visualização dos benefícios que o desenvolvimento da atividade turística poderá trazer para Nazaré Paulista; que haja uma efetiva e maior colaboração entre as atividades da Igreja, dos Festeiros, dos poderes públicos, da iniciativa privada e da comunidade para a preservação da nossa cultura e de nossas tradições; da melhoria da infra-estrutura turística para a recepção aos visitantes (acesso, alimentação, hospedagem); de campanhas de propaganda, divulgação e de informação turística, mas, é preciso, sobretudo, um nosso empenho para que esta importante manifestação que é a Festa do Divino venha ser cada vez mais bonita, festiva e evangelizadora.

O convite: Venham assistir, reviver e festejar
FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO EM NAZARÉ PAULISTA
(uma festa religiosa e folclórica, não “industrializada” – final de junho)

Be the first to reply

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *